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Celso Ming

A trégua entre Estados Unidos e China

15 de Maio de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: NICOLAS ASFOURI / AFP)

A trégua comercial provisória entre Estados Unidos e China, assinada na segunda-feira (12), produziu grande alívio na economia global, mas não eliminou as incertezas. Ao contrário, acrescentou outras.

O prazo de 90 dias — para que tudo seja novamente revisto — deixa a espada pendurada no alto por um fio de teia de aranha. A qualquer momento poderá despencar de lá e provocar o estrago anterior.

Mais do que isso, não se sabe que tipo de concessões o governo Trump pode ter arrancado ou ainda vai arrancar do governo Xi. ou a exigir que a China importasse mais petróleo e cereais dos Estados Unidos e, assim, cortasse fornecimentos de outras procedências, inclusive do Brasil? Ou impôs a compra de títulos do Tesouro (treasuries) na recomposição futura das reservas da China? Que outros pleitos colocou sobre a mesa na área cambial, nos investimentos da China em outros países, especialmente na nova Rota da Seda, na produção de chips, microprocessadores e componentes eletrônicos, no desenvolvimento da Inteligência Artificial ou, ainda, no fornecimento de ímãs de terras raras para os Estados Unidos?

Há quem suponha que, na condição de experiente negociador, Trump tenha optado pela tática do seu feitio: tenha se dedicado inicialmente a amedrontar seus parceiros comerciais para que, num segundo momento, obtenha as concessões desejadas. Outros imaginam que a encrenca fiscal dos Estados Unidos e o forte momento de rejeição dos treasuries e a derrubada das cotações do dólar que se seguiu ao tarifaço levou Trump a certo recuo, porque temeu pela redução do interesse pelo dólar, como moeda global de reserva.

No primeiro caso, se o tarifaço prevalecer, seu custo será em inflação e em desaceleração da atividade econômica mundial.

No segundo, trata-se de uma política contraditória. Ou seja, uma rejeição por ativos em dólares com objetivo de formação de reservas tenderia a valorizar o dólar. E, no entanto, se pretende aumentar as exportações e trazer de volta a manufatura industrial, o governo Trump teria de favorecer certa desvalorização do dólar.

Enfim, as incertezas não só persistem como as novas condições produzem outras mais. Parece improvável que grandes empresas tenham elementos confiáveis para decidir por investimentos dentro ou fora dos Estados Unidos. É uma paralisia que tende a persistir por mais de 90 dias, o prazo de validade declarado do novo acordo entre Estados Unidos e China.

Essas incertezas pairam também sobre a economia brasileira, objeto de nova análise nesta sexta-feira.

Celso Ming é comentarista de economia