Editorial
Janja está em Moscou

O presidente Lula retoma a agenda de viagens internacionais esta semana. O primeiro compromisso será em Moscou, na Rússia. A convite do presidente Vladimir Putin, Lula participará das celebrações dos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na segunda guerra mundial. É o feriado mais importante da Rússia, que ocorre no dia 9 de maio, com um grandioso desfile cívico-militar.
Mas Janja, a primeira-dama, não quis esperar e já está na Rússia desde sábado (3). Junto à sua comitiva — não há informações sobre a quantidade de pessoas — ela viajou a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), do modelo KC-30. Trata-se da maior aeronave da FAB, com capacidade para 238 ageiros. Também não há informações de quanto custou essa viagem e sobre as despesas de hospedagem e alimentação da primeira-dama e sua comitiva.
Em solo russo, Janja tem “agenda cheia”, diz o Palácio do Planalto. Até a chegada do presidente à Rússia, ela cumprirá uma série de agendas entre os dias 3 e 8 de maio, segundo informou hoje o Palácio do Planalto. “Tendo em vista a relação entre Rússia e Brasil, com importantes acordos de cooperação na área de educação e cultura, Janja focará as agendas nesses temas, além da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza”.
Janja irá visitar diversos locais de importância histórica e cultural para a Rússia, como o Teatro Bolshoi. Além do Kremlin, ela também visitará, em São Petersburgo, o Museu Hermitage, a Catedral do Sangue Derramado e a Fábrica de Porcelana Imperial. Ainda na capital cultural da Rússia, Janja irá se encontrar com professores russos e estudantes dos cursos de português e relações internacionais da Universidade Estatal de São Petersburgo, além de visitar o teatro Mariinsky, uma das principais companhias de balé da Rússia, onde irá assistir ao balé Lago dos Cisnes. O Planalto não informou, mas, apesar da “agenda cheia”, deverá haver espaço para eventuais compras enquanto espera Lula chegar. Afinal, ninguém é de ferro e, após muito trabalho, todo mundo merece desestressar.
O presidente brasileiro e sua primeira-dama ficarão em Moscou até dia 10. Na sequência, Lula segue para a China, onde cumprirá agendas nos dias 12 e 13 de maio na Cúpula entre China e países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
A exemplo do que ocorrerá na Rússia, onde Lula terá oportunidade de conversar com Vladimir Putin, na China, o presidenta brasileiro manterá encontro com o mandatário chinês, Xi Jinping. A viagem à China será a segunda visita oficial de Lula neste terceiro mandato. A visita anterior ocorreu em abril de 2023.
Em março ado, a primeira-dama viajou para o Japão também uma semana antes de Lula, quando foi fortemente criticada por não divulgar seus compromissos oficiais. Desde 25 de abril, no entanto, o Palácio do Planalto ou a divulgar a agenda de Janja. No mesmo mês de março, a Advocacia-Geral da União (AGU) elaborou um parecer que concluiu que a posição de primeira-dama “é de interesse público” e que, portanto, cabe ao Estado arcar com os custos da função, incluindo despesas com viagens e divulgação da agenda como ocorre com outros integrantes do governo.
Mais uma vez, portanto, as viagens de Janja — principalmente as internacionais — não têm repercutido tão bem. A presença de Janja em compromissos diplomáticos tem sido motivo de embates nos corredores de Brasília. É por lá que circulam deputados e senadores que desaprovam essa prática. A oposição questiona os gastos com viagens e a atuação institucional da primeira-dama, que não ocupa cargo público formal.
Embora sem cargo oficial, Janja vem ganhando protagonismo em eventos internacionais e em visitas a chefes de Estado, o que, segundo aliados, fortalece a imagem do Brasil em temas como meio ambiente e direitos humanos.
A questão é a falta de transparência, principalmente dos custos operacionais dessas viagens antecipadas. Sobre a divulgação da agenda, o governo tentou cumprir o que determinou a AGU. Já quanto à prestação de contas, até agora, não atendeu a recomendação, que se faz necessária, para que não pareça que o Planalto apenas está legitimando um “capricho” de Janja e que suas idas ao exterior antes de Lula é benéfico ao Brasil e não somente a ela.