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Editorial

29% da população são analfabetos funcionais

10 de Maio de 2025 às 20:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado na segunda-feira (5), mostram que três em cada dez brasileiros com idade entre 15 e 64 anos não sabem ler e escrever ou sabem muito pouco a ponto de não conseguir compreender pequenas frases ou identificar números de telefones ou preços. São os chamados analfabetos funcionais. Esse grupo corresponde a 29% da população.

Essa realidade brasileira é uma das consequências da falta de políticas públicas voltadas para reduzir essa desigualdade entre a população. O mesmo levantamento traz, também, outra informação preocupante. Entre os jovens, de 15 a 29 anos, o analfabetismo funcional aumentou, chegando a 16%. Em 2028, era 14%.

O indicador classifica as pessoas conforme o nível de alfabetismo com base em um teste aplicado a uma amostra representativa da população. Os níveis mais baixos, analfabeto e rudimentar, correspondem juntos ao analfabetismo funcional. O nível elementar é, sozinho, o alfabetismo elementar e, os níveis mais elevados, que são o intermediário e o proficiente correspondem ao alfabetismo consolidado.

Seguindo a classificação, a maior parcela da população, 36%, está no nível elementar, o que significa que compreende textos de extensão média, realizando pequenas inferências e resolve problemas envolvendo operações matemáticas básicas como soma, subtração, divisão e multiplicação.

Outras 35% estão no patamar do alfabetismo consolidado, mas apenas 10% de toda a população brasileira estão no topo, no nível proficiente.

Interessante lembrar que, em junho do ano ado, o atual governo federal, por meio do Ministério da Educação, lançou o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, ao custo de R$ 1 bilhão, em 2023, e de mais R$ 2 bilhões nos anos seguintes. Na mesma época, fez outro anúncio: o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos — Lendo o Mundo e Escrevendo a Própria História, com o envolvimento de R$ 4 bilhões no projeto.

Pouco antes, ainda em campanha, em 6 de outubro de 2022, Lula, que está em seu terceiro mandato como presidente cometeu uma gafe durante um comício em São Bernardo do Campo ao afirmar que “as pessoas que são analfabetas ficaram analfabetas porque este País nunca teve um governo que se preocue com a educação”.

A declaração ganhou um ingrediente político ainda ao final do primeiro turno das eleições de 2022, após o resultado oficial que apontou que Lula venceu as eleições em nove de dez Estados brasileiros com as maiores taxas de analfabetismo.

Agora, em 2025, os raio-x apresentado pelo Indicador de Alfabetismo Funcional mostra que, apesar dos bilhões de reais anunciados, o que falta mesmo são políticas públicas que efetivamente garantam maior igualdade entre a população. Afinal, a pesquisa mostra que mesmo entre as pessoas que estão trabalhando, a alfabetização é um problema: 27% dos trabalhadores do País são analfabetos funcionais, 34% atingem o nível elementar de alfabetismo e 40% têm níveis consolidados de alfabetismo.

Há também diferenças e desigualdades entre diferentes grupos da população. Entre os brancos, 28% são analfabetos funcionais e 41% estão no grupo de alfabetismo consolidado. Já entre a população negra, essas porcentagens são, respectivamente, 30% e 31%. Entre os amarelos e indígenas, 47% são analfabetos funcionais e a menor porcentagem, 19%, tem uma alfabetização consolidada.

Para revelar essa preocupante e triste realidade, a pesquisa contou com a participação de 2.554 pessoas de 15 a 64 anos, que realizaram os testes entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, em todas as regiões do País, para mapear as habilidades de leitura, escrita e matemática dos brasileiros. A margem de erro estimada varia entre dois e três pontos percentuais, a depender da faixa etária analisada, considerando um intervalo de confiança estimado de 95%.

A verdade é que anunciar projetos para conter o analfabetismo é um grande negócio em termos financeiros e políticos. Poucos ganham muito, pouco se faz efetivamente e, assim, de eleição em eleição, a história se repete, mesmo que uma significativa parcela dos brasileiros não consiga alçançar o entendimento do que realmente está acontecendo no Brasil.