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Editorial

Cinco assassinatos a cada duas horas

12 de Maio de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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No ano de 2023, homicídios tiraram a vida de 21,8 mil jovens de 15 a 29 anos. Isso representa uma média de 60 assassinatos por dia ou cinco a cada duas horas. A revelação é um dos destaques do Atlas da Violência 2025, divulgado ontem (12), no Rio de Janeiro.

O estudo apresenta um amplo mapeamento da violência no País, se debruçando sobre diversos grupos populacionais. Em todo o Brasil, ocorreram 45,7 mil homicídios, ou seja, a morte violenta de jovens representou praticamente metade (47,8%) de todos os homicídios no País em 2023.

A morte violenta foi também a principal causa de óbito na população de 15 a 29 anos. De cada 100 pessoas que morreram nessa faixa etária, 34 foram vítimas de homicídio. Os homens representam 93,5% dos registros.

O Atlas da Violência é elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculado ao governo federal, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma organização sem fins lucrativos.

O estudo é concluído a partir de dados coletados junto a fontes oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, responsável pela contagem da população, e o Sistema de Informações sobre Mortalidade e Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde.

A taxa de homicídios de jovens de 15 a 29 anos foi de 45,1 a cada 100 mil pessoas em 2023, mais que o dobro do indicador da população brasileira como um todo (21,2). No entanto, desde 2020, quando a taxa era de 54,8, o índice de homicídios dos jovens apresenta quedas seguidas.

“A criminalidade violenta produz diversas externalidades negativas, entre as quais se destacam o menor crescimento econômico, a redução no desenvolvimento educacional de crianças e adolescentes e a diminuição da participação no mercado de trabalho”, diz trecho do estudo.

A observação de dados específicos de mulheres expõe 3.903 homicídios em 2023, representando taxa de 3,5 por 100 mil habitantes. A análise por unidades da federação mostra onde a vida das mulheres enfrenta maior risco. Em Roraima, a taxa de homicídio feminina (10,4) foi o triplo da brasileira. Na sequência aparecem Amazonas, Bahia e Rondônia, todos com indicador de 5,9 homicídios por 100 mil habitantes. Os Estados com taxas mais baixas foram São Paulo (1,6), Minas Gerais (2,6) Distrito Federal (2,7) e Santa Catarina (2,8).

O Atlas da Violência revela que 32.749 homicídios foram cometidos por arma de fogo no País. Em 2017, ano mais violento, esse número chegou a 49 mil. O dado de 2023 equivale a 15,2 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes. Representa também que 71,6% das mortes violentas no País foram praticadas com esse tipo de armamento.

Outra informação importante revelada pelo estudo são os “homicídios ocultos”, que são os casos de violência que não foram adequadamente identificados pelos sistemas oficiais. Por meio de modelos matemáticos, eles chegam a uma taxa estimada de homicídios.

No período compreendido entre 2013 e 2023, foi identificada a ocorrência de 51.608 homicídios ocultos no Brasil, “que aram ao largo das estatísticas oficiais de violência no País, uma média anual de 4.692 homicídios que deixaram de ser contabilizados”, diz o texto.

O Atlas da Violência nota que a inclusão dos homicídios ocultos faz mudar significativamente os indicadores dos Estados.

Apesar do cenário preocupante, há uma esperança latente na sociedade brasileira. Movimentos sociais, organizações não governamentais e parte da classe política vêm clamando por uma mudança de paradigma na segurança pública. A expectativa é de que, com vontade política e investimentos consistentes, seja possível reduzir os índices de homicídio e garantir uma vida mais segura para todos. Afinal, segurança não é apenas a ausência de violência, mas o direito de cada cidadão de viver com dignidade e esperança de um futuro melhor. Os casos de homicídio no Brasil revelam uma crise que exige mais do que ações pontuais: demandam uma mudança estrutural, uma verdadeira prioridade dos governantes. A sociedade brasileira não aguenta mais promessas vazias; ela quer resultados concretos, políticas públicas eficazes e um compromisso real com a vida a partir de cidades mais seguras para todos.