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Falecimento

Laor Rodrigues deixa inegável contribuição à história de Sorocaba

Prefeitura de Sorocaba decretou luto oficial de três dias em homenagem a um cidadão exemplar que dedicou sua vida à cidade

26 de Maio de 2025 às 22:10
Cruzeiro do Sul [email protected]
Sempre com um sorriso no rosto, era um entusiasta 
da cultura e preservação histórica
Sempre com um sorriso no rosto, era um entusiasta da cultura e preservação histórica (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO 07/11/2011)

Faleceu ontem (26), aos 91 anos, o empresário e filantropo Laor Rodrigues. Ele dedicou décadas de sua vida ao trabalho voluntário, à frente de importantes entidades sociais de Sorocaba, que prestam assistência a idosos, crianças, adolescentes e jovens, defendem a preservação da cultura e da leitura, e também do esporte. No início da noite, a Prefeitura de Sorocaba decretou luto oficial de três dias e manifestou solidariedade a todos “que foram tocados por sua generosidade e exemplo de vida”. A presidência do legislativo também manifestou profundo pesar pela morte do ilustre sorocabano.

Homem preocupado em preservar a história de Sorocaba e de sua gente, Laor Rodrigues era sorocabano, nascido em 13 de março de 1934. Era filho de Augusto Rodrigues e de Ilda da Silva Rodrigues e irmão de Laelso Rodrigues e de Laurita Rodrigues de Almeida.

Sua missão de vida era doar tempo, recursos, experiência, habilidades e talento para ajudar a criar um lugar melhor, pelo menos ao seu redor. Laor Rodrigues levava a sério a filantropia. Amava as pessoas e sempre buscava formas para promover o bem-estar humano e melhorar as condições sociais.

Em sua vida empresarial, deixou o seu nome eternizado nas áreas de istração de empresas e no ramo imobiliário.

Porém, foi na vida pública que fez história, ajudou a constituir, manter e istrar entidades sociais; marcou vidas com seu carisma, amizade, bom humor, competência, zelo, doação, voluntariado, caráter, sinceridade, honestidade e muito amor, dedicação, humildade, discrição e capricho em tudo o que fazia, sempre com um sorriso no rosto.

Também amava a família. Solteiro, dedicava precioso tempo aos irmãos e sobrinhos de sangue e da maçonaria.

Por décadas exerceu o cargo de presidente em nove instituições de Sorocaba. Em 1966 e 1967, atuou na Vila dos Velhinhos. Depois, entre 1984 e 1986, esteve à frente da Escola Monteiro Lobato.

De 1994 a 1996, foi presidente da Fundação Cultural Cruzeiro do Sul, mantenedora da rádio Cruzeiro FM 92,3. Aliás, foi em sua gestão que a única emissora educativa cultural entrou no ar. Entre 1999 e 2001, Laor Rodrigues presidiu a Loja Maçônica Perseverança III.

De 2003 a 2005, foi presidente da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), mantenedora do jornal Cruzeiro do Sul e do Colégio Politécnico.

De 2010 a 2012, atuou como presidente da TVCOM, canal comunitário da cidade de Sorocaba. Foi presidente, por duas vezes, do Esporte Clube São Bento, nos anos de 1968 e 1969 e, depois, em 1978 e 1979. E, em 2012 e 2013, foi presidente da Comissão de Revitalização do Estádio Humberto Reale.

Sempre como voluntário e com o comprometimento social de fazer tudo de forma profissional, como se estivesse istrando o seu próprio patrimônio.

A origem

Sorocabano de nascimento, Laor Rodrigues é filho de Augusto Rodrigues, um mineiro da cidade de Conquista, e de Ilda da Silva Rodrigues, uma portuguesa, nascida em Leiria, mas que também foi registrada pelos seus pais em Minas Gerais. Aliás, Laor Rodrigues tinha como hábito visitar a cidade de Conquista pelo menos uma vez a cada ano para manter viva a história de seus pais.

Augusto e Ilda vieram para Sorocaba em busca de dias melhores para a família, incentivados por um amigo sorocabano. Augusto veio trabalhar na linha dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, “um emprego que todos desejavam, embora fosse muito sacrificante”, contava com os olhos lacrimejados sempre que falava de seu pai.

Um tempo depois, Augusto foi chamado para trabalhar na Viação Sorocabana, que era, na época, a concessionária dos bondes de Sorocaba. Laor também se recordava com muita nostalgia desse tempo. E, assim Laor foi crescendo e se desenvolvendo a partir dos bons exemplos recebidos dos pais. Afinal, Augusto e Ilda queriam o melhor para os filhos. “O sonho do meu pai era ver os filhos estudando. Ele sempre dizia: Não temos condições de deixar herança, só o estudo.” Ele fazia questão absoluta disso”, dizia Laor, sempre que podia, com orgulho de seus pais.

Com o exemplo que vinha de casa e a consciência da importância do trabalho, Laor iniciou a sua vida laboral ajudando o pai, que exercia múltiplas funções, além do trabalho na empresa de bondes. Desde muito cedo, Laor aprendeu que trabalho e estudo eram fundamentais para o crescimento humano e para a dignidade da família.

Um dos orgulhos de Laor Rodrigues era a sua primeira carteira profissional, obtida quando tinha 13 anos (naquela época era permitido que jovens trabalhassem oficialmente) e o seu primeiro emprego, no armazém do seu Jorge Gomes, onde o irmão Laelso já trabalhava.

De uma coisa Laor Rodrigues não tinha medo: do trabalho. Com 43 anos de idade, ele já tinha tempo de contribuição suficiente para se aposentar, mas continuou trabalhando e contribuindo.

Quem conheceu Laor Rodrigues sabe que ele nutria por Laelso Rodrigues um amor e iração que transcende em muito o afeto por um irmão mais velho.

Laor estava sempre perto de Laelso e Laelso sempre perto de Laor. Então, após aquele período de trabalho no armazém de Jorge Gomes, também por indicação de Laelso, Laor foi trabalhar na Companhia Montese de Automóveis, que era a concessionária da Chevrolet em Sorocaba, até chegar a idade para prestar o serviço militar.

Após isso, trabalhou no Banco Mercantil até ser novamente chamado por Laelso, que era diretor da Linhos Quatro Pontos, uma indústria de tecidos, para trabalhar como contador, profissão da qual Laor já era formado. Depois, Laor ainda trabalhou na empresa de Lauro Miguel, que vendia tecidos e artigos para o lar.

Em 1963, já pensando em se tornar um empreendedor, Laor começou a trabalhar vendendo e comprando carros e montou sua própria loja na cidade de São Paulo.

Depois de um tempo nesse ramo, Laor Rodrigues percebeu que o melhor negócio seria o setor imobiliário e foi responsável pela implantação de seis loteamentos.

Em 1966, recebeu o primeiro chamado para o trabalho voluntário ao assumir a presidência da Vila dos Velhinhos, a convite de Benedito Dias, que presidia a Loja Maçônica Perseverança III.

Ficou dois anos na Vila dos Velhinhos e depois outros dois anos na Escola Monteiro Lobato, entidades ligadas à Loja Maçônica Perseverança III. Laor Rodrigues tinha 61 anos de atividades ativas na maçonaria sorocabana.

Outras paixões

Laor Rodrigues sempre teve um cuidado todo especial com a preservação da memória das coisas sorocabanas, privilegiando a história e a cultura.

Em 19 de outubro de 1954, Laor Rodrigues foi itido como associado do Gabinete de Leitura Sorocabano. Desde então, se dedicou à entidade verdadeiramente na condição de sócio contribuinte, se tornando, ininterruptamente, até o seu falecimento, o mais antigo associado do Gabinete de Leitura. Trabalhou efetivamente para que o Gabinete construísse a sua sede social e participou da composição de diversas diretorias e presidiu a entidade entre 2021 e 2023. Estava produzindo o livro “Gabinete de Leitura Sorocabano”.

Em 19 de outubro de 2024, o Gabinete de Leitura celebrou os 70 anos de associado de Laor Rodrigues. À época, o então presidente da entidade, Luciano Viana de Carvalho, disse: “É uma data muito especial para todos nós. Esse marco não é apenas uma homenagem à dedicação de um sócio, mas também ao papel que ele desempenha na história e no fortalecimento da cultura local”.

Laor Rodrigues foi o associado que frequentou o espaço cultural por mais tempo de forma ininterrupta, demonstrando o seu compromisso e amor para com a cultura, a literatura e com a comunidade local.

Em 6 de maio deste ano, foi um dos homenageados, em virtude de sua relevante contribuição, em cerimônia realizada pela Academia de História Militar Terrestre do Brasil “Gen Betholdo Klinger”, por meio do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS).

São Bento

Laor Rodrigues foi presidente, por duas vezes, do Esporte Clube São Bento, nos anos de 1968 e 1969 e, depois, em 1978 e 1979. Fez parte, também, da Comissão de Construção do Estádio Municipal Walter Ribeiro, em 1976, convidado pelo, então, prefeito José Theodoro Mendes. A inauguração do estádio sorocabano foi realizada em outubro de 1978, com o jogo entre o E.C. São Bento (então, presidido por Laor Rodrigues) e o São Paulo FC.

Foi sua a iniciativa de retomar o antigo, histórico e amado estádio Humberto Reale, de propriedade do Esporte Clube São Bento, depois de mais de 30 anos de abandono. Presidiu a Comissão encarregada das obras e, após a sua conclusão, o Centro de Treinamento do São Bento, que voltou a dar vida ao antigo estádio, que recebeu o nome de “CT Laor Rodrigues”.

Faculdade de Direito

Laor Rodrigues foi membro voluntário do Conselho Superior da Fundação Educacional Sorocabana, mantenedora da Faculdade de Direito de Sorocaba (Fadi), entre os anos de 2005 e 2018.

Foi dele a iniciativa de aumentar a participação de membros da sociedade naquele colegiado, à época, com maioria dos conselheiros composta por professores ou funcionários da faculdade.

No dia 23 de janeiro deste ano, Laor Rodrigues foi homenageado pela Fadi, em noite de gala, na colação de grau do curso de graduação bacharelado em Direito da 64ª Turma, pelos relevantes serviços prestados quando esteve à frente da Fundação mantenedora.

Despedida

Amigos e familiares se despedem de Laor Rodrigues hoje (27), das 8h às 14horas, no Espaço Pax, localizado na rua Epitácio Pessoa, 240, Árvore Grande. O sepultamento ocorrerá em seguida, no mesmo local. (Da Redação)

 

“Hoje foi um dos dias mais tristes da minha vida. Crescemos juntos e vivemos durante os 91 anos de sua vida, cheios de muitas felicidades e alegrias. Laor cresceu e se tornou um grande exemplo de trabalho e dedicação às entidades beneficentes de Sorocaba, ao Esporte Clube São Bento...
Agradeço a Deus, aos nossos amigos e parentes por ele ter sido um exemplo de honestidade em tudo que fez durante toda a sua maravilhosa vida.”
Laelso Rodrigues, irmão e amigo, instituidor e diretor da FUA

 

“Hoje nos despedimos de Laor Rodrigues, com o coração apertado, mas cheios de gratidão por tudo o que ele representou. Deixa um legado de memórias, ensinamentos e afeto que permanecerá vivo entre nós. Sua agem pela Fundação Ubaldino do Amaral não se limitou ao período de presidência. Laor sempre esteve atento aos desafios da Fundação, pronto a oferecer conselhos sábios, envolvido com dedicação e comprometimento. Sem dúvida, foi parte essencial da trajetória que levou a Fundação Ubaldino do Amaral, o Jornal Cruzeiro do Sul e o Colégio Politécnico à grandiosidade que hoje representam. Será sempre lembrado com estima e consideração, um dos pilares que sustentarão, pela eternidade, os valores e a história de nossa Fundação. Agora, se junta àqueles que, em outro plano, continuam a nos inspirar e a transmitir força para seguirmos em frente. Descanse em paz, amigo Laor!”

Hélio Sola Aro, presidente da Diretoria Executiva da FUA

 

“A agem do amigo Laor Rodrigues é uma grande perda para Sorocaba; Laor emprestou seus conhecimentos a diversas instituições filantrópicas da cidade, fazendo história em suas istrações, inclusive na Fundação Ubaldino do Amaral, onde foi presidente da Diretoria Executiva e, com muita coragem e experiência, fez uma istração exemplar, pavimentando o caminho dos que viriam a seguir. Para nós, seus amigos e sua família, o vazio será ainda maior, ele foi um ser humano diferenciado, fará muita falta.”
Marco Aurélio Lahan Dottore,
presidente do Conselho Superior da FUA

 

“Eu considerava ele o meu mentor, quer dizer, sempre foi o meu conselheiro. Laor foi um dos grandes presidentes do Esporte Clube São Bento. E depois, quando eu assumi a presidência do São Bento, ele me auxiliou demais com todas as informações que tinha, até financeiras, colaborando de todas as formas. Isso foi aumentando a nossa amizade, nosso relacionamento, que se tornou uma coisa importantíssima, principalmente pra mim. Vivi histórias muito bonitas com ele. Então, estamos em um momento difícil, sabendo que perdi um grande amigo. Nós acreditamos que as coisas vão dar certo, que vão continuar, mas, infelizmente, tudo tem sua hora, o mundo é assim. Nós temos que aceitar da melhor maneira possível e pedir para que Deus reserve um bom lugar para ele. O Laor foi um guerreiro, brigou muito por Sorocaba. Em todos os espaços que ocupou, sempre foi um guerreiro. Gostaria de deixar minhas condolências para a família neste momento difícil.”

Fernando Costa Neto, vice-prefeito de Sorocaba e ex-presidente do
Esporte Clube São Bento, cujo Centro de Treinamento leva o nome do amigo

 

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